sábado, 20 de outubro de 2007

As Cem linguagens


A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos,
cem pensamentos,
cem modos de pensar,
de jogar e de falar.
Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir.
Cem mundos para inventar.
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens
(e depois, cem, cem, cem),

Mas roubaram-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.
Dizem-lhe: de pensar sem as mãos,
de fazer sem a cabeça,
de escutar e de não falar,
de compreender sem alegrias,
de amar e maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe
e de cem, roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho,
a realidade e a fantasia,
a ciência e a imaginação,
o céu e a terra,
a razão e o sonho,
são coisas que não estão juntas.
Dizem-lhe: que as cem não existem.
A criança diz: ao contrário, as cem existem.

Loris Malaguzzi

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O coelhinho Branco


Era uma vez, um coelhinho branco que vivia na sua toca muito confortável.
Estava a fazer o seu almoço e decidiu ir colher umas couvitas na sua horta. Porém, quando voltou para casa, a porta estava fechada. Estava a empurrar a porta quando ouviu de lá de dentro...

- Quem é? Quem está aí?

- Eu sou o coelhinho branco. Fui à horta buscar uma couve para fazer um caldinho...

- E eu sou a cabra cabrês, que te salto em cima e te faço em três!

O coelhinho ficou muito assustado e foi pedir ajuda aos amigos.
Encontrou o boi, o cão e o galo mas nenhum ousou enfrentar a cabra cabrês.
Uma formiga que passava perguntou ao coelhinho branco:

- Porque estás tão triste?

- Fui à horta buscar uma couve para fazer um caldinho... e quando voltei a casa, não pude entrar, estava lá a cabra cabrês que disse: eu sou a cabra cabrês, que te salto em cima e te faço em três!

- O quê? eu vou ajudar-te!

E lá foram até à casa do coelhinho branco... Bateram à porta e:

- Quem é? Quem está aí?

- Eu sou o coelhinho branco. Fui à horta buscar uma couve para fazer um caldinho...

- E eu sou a cabra cabrês, que te salto em cima e te faço em três!

A formiga ficou muito irritada!

- E eu sou a formiga rabiga, que te salto em cima e te furo a barriga!
Depois, entrou pela fechadura e passados uns minutos a cabra cabrês saiu a correr, com o medo que teve da corajosa formiga! E o coelhinho branco pode voltar para a sua casinha...

** Esta é sem dúvida a minha história infantil preferida, e ainda não consegui encontrar este livro à venda... é a história da minha infância, e continua a ser a história que mais gosto de contar em estágios...

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

A Borboleta


Era uma vez uma menina
Tão cheiinha de calor
Abanava um abaninho
Como se fosse uma flor * ** ***

Como se fosse uma flor
Uma rosa ou uma violeta
E em volta dela voasse
Feliz uma borboleta * ** ***

E veio a mãe veio o pai
E disseram: Filha minha!
Não te canses a abanar
Ligamos a ventoinha! * ** **

Veio o avô veio a avó
Com um ar consternado:
Não te canses a abanar
Pomos o ar condicionado! * ** ***

Param as mãos da menina
Uma rosa ou uma violeta
E em suas mãos pequeninas
Adormece a borboleta. * **


Matilde Rosa Araújo
In As fadas verdes